Estamos nos tornando infelizes por não estarmos felizes o tempo todo

Quem nunca teve devaneios com outras vidas possíveis? Diferentes carreiras, amores, maneiras de viver, escolhas. O “e se” é uma das raízes do nosso mal-estar psíquico, porque ao renunciarmos de certos caminhos, eles nos perseguem no universo paralelo da nossa imaginação.
Ninguém procura terapia reclamando de não conseguir voar ou respirar embaixo d’água, porque ninguém acredita que precisa disso para ser amado, feliz ou reconhecido (e tão pouco acredita que exista alguém que voe ou respire embaixo d’água). Sofremos por aquilo que acreditamos que deveríamos ser capazes de conquistar, não pelo impossível. Tão pouco sofremos pela falta em si, mas pelo que acreditamos que essa falta nos impede de viver ou ser. Acontece que na vida, como bem colocou Kundera, “não há como verificar qual é a melhor decisão, pois não existe comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparo”.
Imaginamos que, em outra vida, sendo outra pessoa, de outra forma, não sentiríamos angústia. Mas a verdade é que, se você tivesse optado por um caminho diferente, realmente não enfrentaria essas tristezas, mas sim outras. Cada escolha carrega suas próprias angústias. A paralisia da neurose resulta da crença de que existe uma vida - ou alguém vivendo uma vida - onde as angústias não existam. Permanecer preso ao potencial de uma vida que você deixou para trás - ou que imagina que outra pessoa possui - não só te imobiliza, como também rouba a satisfação (parcial) da vida que você realmente tem para viver. Isso prejudica o seu sentimento de existência.
"Estamos nos tornando infelizes por não conseguirmos ser felizes o tempo todo."